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Movimento Permanente
da Matéria, 2024

“O mundo é um pulular contínuo e irrequieto de coisas, um vir à luz e um desaparecer contínuo de efêmeras entidades. Um conjunto de vibrações.” Carlo Rovelli

MOVIMENTO PERMANENTE da MATÉRIA

A presente exposição de Karen Axelrud se insere numa trajetória que se destaca por um longo processo criativo, abarcando pinturas, desenhos, colagens, gravuras e fotografias, universo que vem sendo revelado a cada nova mostra ao público. O título Movimento Permanente da Matéria, se inspira em conceitos de física e cosmologia contemporâneas que habitam a curiosidade da artista e permeiam este grupo de obras recentes. Nestas encontram-se dois elementos fundamentais no seu vocabulário formal: a persistência da linha e a sobreposição de planos, cores e dimensões.

Se em fases anteriores as linhas formavam grades perfeitamente verticais e horizontais, traçadas à mão livre, no trabalho atual elas se curvam, formando elipses, círculos, espirais desenhadas por máscaras recortadas no papel. Tudo é questão de espaço e de tempo nestas obras. Tempo do processo artístico, criador e demolidor, tempo de contemplar, de circular entre as obras, tempo de reconhecer algo escondido nas formas abstratas, tempo de dialogar com as imagens.

 

Aqui podemos adivinhar tanto um macrocosmo repleto de planetas, asteroides, nebulosas quanto um microcosmo de organelas celulares, átomos, núcleos, elétrons. Fragmentos, cacos, meteoritos ou simplesmente pintura sobre pintura coexistem. Cardumes de formas coloridas deslizam entremeados por linhas de força que se cruzam, amarram ou se expandem num movimento permanente da matéria. Se desordem existe, ela é bem-vinda, é parte do processo. Ou, se preferirmos, como diziam os gregos antigos, “o cosmos é filho do caos”. Karen nos brinda assim com uma experiencia visual intrigante que se revela pouco a pouco, como o mistério abissal do espaço que contemplamos em silencio.

 

ARQUEOLOGIA

Entre as obras expostas, esta original coleção de pequenos objetos que a artista denomina “arqueologia” nos remete à antiga tradição artística dos “gabinetes de curiosidade”. Esses gabinetes que mais tarde dariam origem aos museus modernos, reuniam objetos aleatórios expostos em vitrines e marcaram uma aproximação da arte a uma apreensão mais cientifica do mundo. A mesma noção de objeto de estudo, de classificação e, porque não, de arqueologia do seu próprio processo criativo pode ser identificada nos curiosos objetos feitos por Karen.  Manipulados pela mão da artista, em cerâmica fria, estes objetos variados em cor e tamanho constituem um repertório de formas, como livros numa biblioteca. Formas que se materializam, concretas, que transpõem, talvez, os corpos abstratos que flutuam em suas telas.

CUT OUTS

Em Cut outs Karen nos convida a ver a estrutura, o arcabouço propriamente dito de suas linhas. Ou seja, máscaras e vazados usados como molde e que seriam descartados no resultado final da pintura são incorporados à obra  para tornarem-se eles mesmos o objeto artístico. Ela permite assim ao que estava oculto vir a tona, como se virasse a pintura do avesso, expondo seu esqueleto. Nestas tramas estruturais se vê, aqui e ali, manchas e borrões sutis, restos da tinta que passou por ali. A questão do tempo se manifesta, assim, pelos rastros de memória do processo. Por fim a fragilidade do papel reforça a ideia do transitório, do passageiro, do que está em permanente transformação.

ÓRBITAS

Na série “Órbitas”, a artista sintetiza os dois elementos anteriores: forma e estrutura.  O processo torna-se mais complexo, opondo tensões de expansão e contração. Orbitas planetárias? Plasma celular? Universos, multiversos, glúons, quarks, tecido do tempo. Um universo composto de luz e coisas que tenta abarcar macrocosmos e microcosmos, desde as partes mais indivisíveis da matéria aos imaginários anéis de Saturno. Mundos, planisférios e a própria tinta da pintura são aspirados por um vórtex acelerado. 

CONSTANTES INCERTEZAS

Arte é questão de um buscar constante e de um duvidar constante. Visto assim, o processo do artista é um processo permanente. Nisto se encontra a consistência de sua arte, mesmo quando as obras lhe parecem dispares na cacofonia criativa. Porque o artista busca, muito além de método e disciplina e ainda mais além de um querer encontrar respostas, um incansável e legítimo querer encontrar perguntas.

Com suas pinturas, recortes e objetos, Karen Axelrud nos abre a janela a seu elegante universo criativo.

 

THEMIS CHEINQUER, 2024

Themis Cheinquer é formada em História da Arte pela Universidade Paris X, Nanterre, e obteve o grau de doutora em História da Arte na Escola do Louvre em Paris, com foco na análise da escultura e na percepção do espaço. Sua tese, defendida em 2021, tem o título Sculpture, Espace, Perception: Auguste Rodin, Medardo Rosso et Alberto Giacometti.

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